Construir um bairro ou uma inteira cidade do zero, com um enorme projeto arquitetônico, não é novidade para nós, afinal, temos Brasília.
Aqui em Roma podemos encontrar alguns bairros que foram completamente construídos com uma finalidade, e que acabaram virando ícones de uma época e/ou de uma ideologia.
Temos bairros operários e populares: San Lorenzo que abrigava os funcionários da ferrovia estatal italiana, Garbatella e Testaccio que abrigavam os funcionários das centrais elétricas e do gás, alem do matadouro.
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E também temos o EUR, um ícone da arquitetura fascista (cujo nome oficial é racionalismo italiano), construído por vontade de Benito Mussolini.
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A função inicial do bairro era comemorar de modo monumental os 20 anos da tomada do poder por parte do Mussolini e da instauração do fascismo.
A tomada do poder chama-se Marcia su Roma (Marcha sobre Roma) e foi uma tomada de poder violenta e armada, organizada pelo Partido Nacional Fascista, guiado pelo duce.
Com isso o rei Vittorio Emanuele III abdicou do poder, deixando tudo nas mãos dos fascistas.
O grande desejo de Mussolini era fazer da era fascista o terceiro império. Para tal Roma foi colocada de cabeça pra baixo, novas ruas e avenidas foram abertas, com novas construções monumentais evocando o antigo império romano.
O fascismo tinha um calendário paralelo, como se uma nova era estivesse começando. Por exemplo: 1932 (que era do décimo ano da tomada do poder), era chamado de Ano X.
Existem muitas construções em Roma sem o ano solar, mas indicando o ano da era fascista!
EUR é o acrônimo de Exposição Universal Romana e foi construído para hospedar a exposição universal de 1942, imitando as exposições universais de Londres e de Paris, que eram as mais famosas até então.
Porém, Mussolini queria que a versão romana fosse a mais imperiosa de todas, dignas, claro, de um verdadeiro novo imperador: ele mesmo! Mussolini se considerava o novo Imperador Augusto.
O bairro EUR começou a ser construído em 1936 e deveria ter ficado pronto em 1941-1942, mas com a segunda guerra mundial, somente um dos prédios foi inteiramente completado antes desse período.
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O arquiteto responsável pelo projeto foi Marcello Piacentini, arquiteto e urbanista italiano que faleceu em 1960, e que ficou conhecido como “arquiteto oficial do regime fascista”.
Entre outros também projetou a cidade universitária de Roma La Sapienza, onde também lecionou como professor de arquitetura e o Edifício Matarazzo (Palácio do Anhangabaú), em São Paulo.
Hoje em dia o bairro é ocupado por muitos ministérios, museus (existem quatro museus: Museu Nacional da Alta Idade Média, Museu das Artes e Tradições Populares), Museu Nacional Pré-Histórico Etnográfico, Museu dos Correios), alguns dos melhores liceus da cidade, sedes de importantes empresas (como os correios) e em parte também é um bairro residencial, com um metro quadrado caríssimo.
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No EUR o outro Coliseu de Roma: O Coliseu Quadrado
Quando falamos em Coliseu, a primeira coisa que pensamos é… naquele Coliseu que a gente conhece, antigão, uma das maravilhas do mundo moderno, etc. e tal.
Mas Roma é uma cidade cheia de surpresas e seus moradores tem uma criatividade enorme para apelidar os monumentos “mais modernos”.
Assim como o Vittoriano também é conhecido como máquina de escrever ou bolo de noiva, o Palazzo della Civiltà Italiana ganhou o carinhoso apelido de “Colosseo Quadrato”, em bom português, o Coliseu Quadrado.
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Esteticamente os arcos de um lembram os arcos do bom e velho Coliseu.
Vamos saber um pouco da história do Coliseu Quadrado…
Do projeto fascista do bairro EUR à sede da Fendi
Principal ícone de arquitetura fascista do bairro EUR, hoje em dia o prédio hospeda a sede da luxuosa marca Fendi. Saibam que o EUR foi construído para a Exposição Universal Romana de 1942, que acabou não acontecendo a causa da guerra.
++ Bairro EUR em Roma: o símbolo da arquitetura fascista
Sua construção iniciou em 1936, ele foi inaugurado incompleto em 1940, mas só foi concluído nos anos 50, quando todo o bairro EUR foi completado.
Um dos arquitetos que presidiu a construção do Coliseu Quadrado foi Marcello Piacentini, o “arquiteto de Mussolini”, que também projetou o Edifício Matarazzo, em São Paulo, também conhecido como Palácio do Ahangabaú.
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Além da sua majestosidade, a primeira coisa que chama a atenção é a frase escrita no topo do prédio: «Un popolo di poeti di artisti di eroi / di santi di pensatori di scienziati / di navigatori di trasmigratori». (Um povo de poetas, de artistas, de heróis, de santos, de pensadores, de cientistas, de navegadores e de migrantes).
Frase, digamos assim, ícone da cultura italiana, ou quando os italianos em geral precisam definir os seus dotes como povo!
Seus arcos são distribuídos da seguinte maneira: seis na vertical e nove na horizontal. Por que esse número? O número de letras do nome e sobrenome de Benito (6) Mussolini (9).
Essa descoberta não foi feita por mim, mas pela minha amiga Cristina Rosa, do Sol de Barcelona, que fez pesquisas sobre regimes ditatoriais para o seu Doutorado em História. Obrigada, Cris!
O enorme prédio cujo interior possui uma decoração e arquitetura “racionalista” e minimal, ficou fechado por muitos anos, com aberturas excepcionais ao público, ou em ocasiões especiais durante a visita de chefes de Estado.
A primeira notícia sobre a sua abertura definitiva foi em 2013, quando as manchetes dos jornais anunciaram que a Louis Vuitton ocuparia o prédio. Mas na verdade, quem ocupa as suas dependências é a Fendi, que de qualquer modo faz parte do grupo LVMH, proprietário das marcas de luxo Louis Vuitton, Fendi e Bulgari.
Como era de se esperar, essa “ocupação” de um prédio histórico por parte de um dos grupos da moda mais ricos do mundo foi alvo de inúmeras polêmicas.
Por que não fazer um museu, foi a pergunta de muitos. Mas o que parece mesmo ser motivo de ira e inveja é o fato da Fendi pagar módicos 240.000 euros mensais pelo aluguel pelos próximos vinte anos.
Com isso, após setenta anos o prédio foi aberto ao público em ocasião de mostras e eventos culturais. Muitos dizem que no futuro haverá um bar e uma livraria-bookshop abertos o ano todo.
Foi por ocasião de uma mostra que pude finalmente conhecer o “outro Coliseu de Roma” e ficar admirada com a sua beleza. Achei que nunca fosse ver o que tem dentro, porque há anos sempre o fotografava somente do lado de fora!
Grandes mestres do cinema gravaram cenas dos seus filmes no Coliseu Quadrado, como Bernardo Bertolucci, Roberto Rossellini e Federico Fellini, que filmou um dos quatro episódios do filme Boccaccio 70 com a mesma Anita Ekberg, já famosa pela cena do banho na Fontana di Trevi com Marcello Mastroianni.
Para visitar o Coliseu Quadrado
O Coliseu Quadrado não está sempre aberto ao público. Consultem o site da Fendi e vejam se há mostras ou aberturas extraordinárias.
Site: http://www.fendi.com/it/fendi-life/fendi-hq.html
A entrada é grátis.
Endereço: Quadrato della Concordia 3
Como chegar: O melhor modo é pegar a linha B do metrô (direção Laurentina). A estação mais próxima é a EUR Magliana. Quando descerem dela, verão o monumento de costas. Então é só subir a colina e chegar lá. Eu prefiro descer na estação
Atualmente a mais nova construção é La Nuvola di Fuksas, um novo centro de congressos totalmente moderno e futurístico, projeto do arquiteto Massimiliano Fuksas, e tema de muita briga, controvérsia, com a turma do contra que acha que o projeto é feio, que é um enorme gasto de dinheiro, etc.
Se você gosta de passeios um pouco diferentes, e quer conhecer a arquitetura moderna de Roma, esse é o lugar!
O bairro também tem uma rua moderna, com algumas lojas ótimas para compras: o Viale Europa. No passado houve a proposta de fazer uma das etapas do circuito de Fórmula 1 no bairro, mas a ideia não foi aprovada. Mas conseguiram aprovar as corridas de E-Prix.
Por fim: na primavera e verão o local fica cheio, porque há um lago artificial com um enorme parque e área verde (bem na saída do metrô), então é uma ótima opção de lazer com os pequenos e para fazer um piquenique.
Como chegar até lá: pegue a linha B do metrô, e desça nas estações EUR Palasport ou EUR Fermi.
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Respostas de 9
Conheci o bairro EUR em 2016 quando fui para Roma fazer um curso de língua e cultura italiana.
Uma visita ao EUR fazia parte das atividades do curso.
O considero um dos bairros mais interessantes da cidade. Que bom q vc pode conhece-lo!
Nossa que linda a arquitetura do Bairro EUR em Roma. Ainda não conheço a Itália. Mas irei visitar e usar suas dicas quando for.
Caramba, o Bairro EUR tem uma cara completamente diferente de toda Roma, né? Já estive algumas vezes na cidade e nunca me interessei por um passeio mais a fundo nele. Gostei do seu post porque contextualizou muito bem a questão histórica do fascismo na Itália com a construção do bairro.
Super interessante! Não fazia ideia. Excelente partilha essa sobre o Bairro EUR em Roma. Já estive várias vezes em Roma e nunca tinha tido oportunidade de conhecer. Obrigada pela partilha.
Eu tinha colocado o bairro EUR no meu roteiro quando fui para Roma, mas, não deu tempo. Roma me surpreendeu tanto que explorei diversos lugares que nem sabia que existiam mas algumas coisas ficaram de fora. Hora de voltar!
Verdade! Tem muito cantinho bem inusitado. Nos últimos anos temos vários bairros (e até um museu ao ar livre) com street art.
Nunca visitei Roma com esse olhar para a arquitetura fascista! Já coloquei EUR na lista para uma próxima visita!
Não é um passeio super conhecido, mas acho que é algo que vale bem a pena para conhecer a história de Roma.