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Prisão Mamertina: a Prisão de São Pedro e São Paulo

Em Roma podemos tocar com as mãos a cronologia do cristianismo no Ocidente, e a história dos apóstolos e dos santos mártires.

A Prisão Mamertina é um dos muitos lugares de Roma ligados à história daqueles que foram punidos com a morte por se declararem seguidores de Cristo.

Também chamada de Cárcere Mamertino ou Tullianum, aquela que é sobretudo conhecida como a Prisão de São Pedro e São Paulo, fica localizada em um cantinho escondido às margens das ruínas do Fórum Romano, nos subterrâneos da igreja de San Giuseppe dei Falegnami (em pt.: São José dos Marceneiros).

Falando sobre a pluralidade de nomes: Tullianum era o nome com o qual a prisão era conhecida em época romana, provavelmente porque jorrava uma fonte de água (“tullus” em latim). Há também quem ligue o nome tullus ao sexto rei de Roma, Servio Tullio.

Mamertino é o nome que a prisão ganhou na idade média, e seria referente a Mamerte, uma versão em osco (língua pré-itálica), do nome do deus Marte, rei da guerra.

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A prisão é considerada a mais antiga da cidade, e durante os primórdios da história da cidade de Roma, também foi a única prisão existente.

O historiador antigo Tito Livio nos conta que a prisão mamertina foi construída à época de Anco Marzio, o segundo rei de Roma.

Era considerada uma espécie de “alcatraz da antiga Roma”, ou seja, uma prisão de máxima segurança, na qual ficavam os prisioneiros já condenados e à espera da execução.

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Igreja de São José dos Macerneiros e entrada da Prisão Mamertina | Foto: Shutterstock

Prisioneiros políticos famosos que morreram na prisão mamertina

Os detentos da Prisão Mamertina eram inimigos de guerra dos romanos ou pessoas que cometeram delitos contra o Estado, como a insurreição dos irmãos Graco ou os conjurados de Catilina.

Um dos casos mais famosos de prisioneiros que conseguiram evitar o cárcere mamertino, foi Decébalo, o último rei dos dácios (atual Romênia).

O final da guerra de conquista entre romanos e dácios (101 a 106 d.C), teve como adversários, de um lado o imperador Trajano e do outro lado o rei Decébalo.

Ao ser derrotado, Decébalo seria trazido a Roma como prisioneiro político, exposto como preda de guerra no desfile do triunfo e, por fim, levado à Prisão Mamertina para ser justiçado.

O rei da Dácia evitou toda essa humilhação cometendo suicídio, gesto imitado por muitos dos seus generais e soldados.

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Suicídio de Decébalo, narrado nos relevos da Coluna de Trajano, em Roma.

Quem não teve a mesma coragem ou sorte foi Vercingetorix, rei dos gauleses. Você com certeza conhece parte dessa história, contada nas famosas revistas em quadrinhos de Asterix e Obelix.

As guerras entre Roma e a Gália duraram décadas, e foram uma das grandes vitórias de Júlio César.

Quando os romanos já tinham praticamente subjugado a Gália, o chefe da tribo dos arvenos resolveu reunir várias outras tribos (criando uma confederação de tribos gaulesas) e lançar uma nova rebelião para resistir aos romanos.

Na famosa Batalha de Alésia, 80.000 gauleses lutaram com cerca de 66.000 romanos, que saíram vencedores.

Vercingetorix foi trazido para Roma como prisioneiro e desfilou no triunfo de César em 52 a.C. Foi encarcerado na Prisão Mamertina e condenado à morte em 46 a.C.

Placa com nome dos prisioneiros mais famosos do Cárcere Mamertino

Visita à Prisão de São Pedro e São Paulo

Assim como ocorreu com muitos monumentos romanos antigos, por cima das ruínas romanas foi construído um outro edifício, nesse caso, a igreja de São José dos Marceneiros.

Para visitar as ruínas antigas é necessário visitar dois andares subterrâneos. O que faz da visita um lugar muito interessante, é justamente compreender como nascem as sobreposições de camadas nas construções de Roma.

Quando chegamos ao local, o que vemos inicialmente é: a igreja, a qual engloba um, antigo portal de época romana, com o nome de dois cônsules: C. Vibio Rufino e M. Cocceio Nerva.

Retábulo com São Paulo e São Pedro batizando com a água da fonte local.

Essa fonte histórica (nome dos magistrados que teriam construído ou inaugurado o edifício) nos conduz ao fato que entre 39 e 42 d.C., foi realizada uma nova entrada, em um edifício que já existia anteriormente há séculos.

O andar atual, por onde temos acesso, foi musealizado. O percurso é pequeno, mas muito interessante e bem ilustrado. Quem não fizer o passeio com um guia de turismo credenciado, pode requisitar um ipad, onde há explicações em italiano, inglês e espanhol.

Além do ipad, há vários paineis que explicam a origem e existência da Prisão Mamertina e dos seus imediatos arredores, assim como de toda a evolução da área arqueológica.

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Prisão de São Pedro e São Paulo: a veracidade dos fatos

A agiografia cristã medieval foi a responsável por nos contar que esse foi o lugar da prisão dos apóstolos Pedro e Paulo.

A história narra que ambos ficaram presos no andar inferior da prisão, e que utilizavam a fonte de água (tullianum) para batizar os companheiros de cela que se convertiam a Cristo.

A verdade é que não existem provas certas da permanência de ambos no cárcere mamertino. O que sabemos é que a transformação da prisão em igreja aconteceu bem cedo na história, na época do Papa Silvestre.

Existe ainda uma lenda que narra que São Pedro, ao descer até o andar inferior, teria batido com a cabeça na parede, deixando uma marca na pedra (atualmente essa parte é uma relíquia e está protegida com uma grande).

Local onde São Pedro teria batido com a cabeça em uma parede da prisão.

De todo modo, mesmo que os apóstolos tivessem passado pelo Cárcere Mamertino (sobretudo Paulo que efetivamente foi prisioneiro em Roma, mas da leitura do Livro de Atos, sabemos que o mesmo, sendo cidadão romano, teve direito a uma prisão domiciliar), a agiografia católica nos conta que Pedro foi crucificado na Colina Vaticano (onde hoje surgiu a Basílica de São Pedro).

Paulo, por sua vez, foi decapitado na localidade conhecida como San Paolo alle Acque Salvie, onde atualmente existe a Basilica delle Tre Fontane) e sepultado onde foi construída a Basílica Papal de São Paulo Extramuros.

A história de Pedro e Pãulo é narrada no evangelho apócrifo conhecido como Os Atos dos Beatos Pedro e Paulo, redigido por volta do 4 séc. d.C., em língua grega.

A úmida cela subterrânea e o lugar onde brotava a fonte de água.

Dicas para visitar a Prisão Mamertina

A Prisão Mamertina fica no Clivo Argentario 1, uma ruela meio escondidinha entre a Colina do Campidoglio, as ruínas do Fórum Romano e em frente à igreja de São Lucas e Santa Martina. Apesar de escondido, é bem fácil chegar lá. Veja abaixo no Google Maps.

Dias e horários de abertura: todos os dias das 9 às 17h.

Preço: o ingresso custa 10 euros e pode ser comprado no site do nosso parceiro, a empresa Get Your Guide.

Acessibilidade: O percurso para chegar ao local é acidentado, com antiga pavimentação romana.

Para alcançar os subterrâneos e chegar aos andares correspondentes às prisões, é necessário descer escadas e passarelas, portanto não há acessibilidade para cadeirantes, carrinhos de bebê ou pessoas com mobilidade reduzida.

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Escada de acesso à cela que abrigou São Pedro e São Paulo

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